Toda a França sabia que o príncipe de Bauffremont tinha mais ou menos as mesmas preferências
do cardeal de quem acabo de falar. Haviam dado a ele em matrimônio uma mocinha assaz
inexperiente, e que, segundo era costume, só foi instruída às vésperas.
– Sem mais explicações, – diz a mãe – pois que a decência me impede de ocupar-me de certos
pormenores, tenho uma única coisa a recomendar-vos, minha filha; desconfiai das primeiras propostas
que vosso marido vos fizer, e dizei-lhe, veemente: Não, senhor, não é por aí que se aborda uma
mulher honesta; em qualquer outro lugar que vos agrade, mas, certamente, aí não…
Vão ao leito e, por uma norma do decoro e da honestidade sem margem para dúvida, o príncipe,
querendo fazer as coisas conforme com os costumes, ao menos pela primeira vez, oferece à sua
mulher apenas os castos prazeres do himeneu: mas a jovem bem educada, lembrando de sua
lição:
– Por quem me tomais, senhor? – diz-lhe – pensais que eu consentiria essas coisas? Em
qualquer lugar que vos agrade, mas, certamente, aí não…
– Mas senhora…
– Não, senhor, inútil insistirdes, nunca me fareis mudar de opinião.
– Pois bem, senhora, devo contentar-vos, – diz o príncipe apropriando-se de seus altares
preferidos – eu ficaria bem zangado se dissessem que alguma vez eu quis vos desagradar.
E venham nos dizer agora que não é necessário instruir as moças quanto às obrigações
delas, um dia, para com seus maridos!
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Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade (Paris, 2 de junho de 1740 – Saint-Maurice, 2 de dezembro de 1814) foi um nobre, político revolucionário, filósofo e escritor francês famoso por sua sexualidade libertina. Suas obras incluem romances, contos, peças de teatro, diálogos e tratados políticos. Durante sua vida, alguns deles foram publicados em seu próprio nome, enquanto outros, que Sade negou ter escrito, apareceram anonimamente. Ele é mais conhecido por suas obras eróticas, que combinavam discurso filosófico com pornografia, retratando fantasias sexuais com ênfase na violência, sofrimento, sexo anal (que ele chama de sodomia), crime e blasfêmia (contra o Cristianismo). Ele era um defensor da liberdade absoluta, sem restrições de moralidade, religião ou lei.
As palavras sadismo e sádico são derivadas em referência às obras de ficção que ele escreveu, que retratavam vários atos de crueldade sexual. Enquanto Sade explorava mentalmente uma ampla gama de desvios sexuais, seu comportamento conhecido inclui "apenas o espancamento de uma empregada doméstica e uma orgia com várias prostitutas — comportamento que diverge significativamente da definição clínica de sadismo".[1][2]
Sade era um defensor de bordéis públicos gratuitos fornecidos pelo Estado: a fim de evitar crimes na sociedade que são motivados pela luxúria e para reduzir o desejo de oprimir outros usando seu próprio poder, Sade recomendava bordéis públicos onde as pessoas poderiam satisfazer seus desejos.[3]
Sem nenhuma acusação legal contra ele,[1] Sade foi encarcerado em várias prisões e um asilo de loucos por cerca de 32 anos de sua vida: 11 anos em Paris (10 dos quais foram passados na Bastilha), um mês na Conciergerie, dois anos em uma fortaleza, um ano no Convento Madelonnettes, três anos no Asilo Bicêtre, um ano na Prisão de Sainte-Pélagie e 12 anos no Asilo Charenton. Durante a Revolução Francesa, ele foi um delegado eleito na Convenção Nacional. Muitas de suas obras foram escritas na prisão.
Continua a haver um fascínio por Sade entre os estudiosos e na cultura popular. Intelectuais franceses prolíficos como Roland Barthes, Jacques Derrida e Michel Foucault publicaram estudos sobre ele.[4] Por outro lado, o filósofo hedonista francês Michel Onfray atacou esse interesse, escrevendo que "é intelectualmente bizarro fazer de Sade um herói".[5] Também houve inúmeras adaptações cinematográficas de sua obra, a mais notável sendo Salò de Pasolini, uma adaptação do polêmico livro de Sade, 120 Dias de Sodoma.
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